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sexta-feira, 14 de março de 2014

Imagina depois da Copa...


O Brasil se prepara para receber o evento esportivo mais importante do planeta: a Copa do Mundo de Futebol. Para isso foram empenhados esforços na qualificação profissional dos trabalhadores brasileiros, no intuito de solucionar alguns gargalos em diversos setores – os mais perceptíveis são nos de turismo e hospitalidade, construção civil e saúde. O campo da educação profissional e tecnológica se tornou fértil para diversas iniciativas, como o Pronatec do Governo Federal. Além dos belos estádios (ou arenas), qual será o legado da Copa do Mundo aos trabalhadores brasileiros?




Uma das grandes dúvidas diz respeito ao cenário econômico pós-Copa. Há análises que indicam um período de recessão da economia e deste modo, um impacto altamente negativo nas relações de trabalho no segundo semestre de 2014. A causa seria a inserção de cerca de 150 mil trabalhadores no mercado, oriundos de programas de capacitação profissional de todo período pré-Copa. Isto significa que durante o aquecimento econômico gerado pelo evento, as empresas aumentarão consideravelmente seus quadros, inclusive com maior contratação de aprendizes e de pessoas com deficiência, elevando também os custos com a adaptação de sua infraestrutura. Se atualmente, no cenário econômico mundial, somos um “oásis” no deserto; passada a euforia, quem sustentará o emprego e a renda de boa parte dos trabalhadores?



Do outro lado, o Ministro do Esporte Sr. Aldo Rebelo afirmou neste mês que a Copa gerará 3,6 milhões de empregos (este número era de 700 mil em pronunciamento do governo em 2011). Rebelo se apoia no estudo feito pela consultoria americana Enrst & Young e a FGV-RJ, que também faz referência ao crescimento do PIB, com o cálculo de que a Copa produzirá crescimento de 0,4% ao ano até 2019. 


Se o primeiro cenário se concretizar, teremos um grande número de trabalhadores que passaram por cursos de capacitação profissional, técnicos ou mesmo de aperfeiçoamento. Ou seja, haverá um contingente de trabalhadores qualificados que, com a possibilidade de desaquecimento econômico, terão um futuro incerto. Diferente da crise de 2008, onde o governo lançou mão de medidas retrógradas para driblá-la, desta vez poderá não ter condições de emprega-las. E digo isso por estar diante, na minha opinião, de um cenário mundial diferente. que pode levar o governo a um grande equívoco estratégico, onde:
a.   Ignoram o investimento na educação básica e geral para se utilizar de meios paliativos, por outro lado, investimentos em formações específicas e setorizadas;
b.  Não há movimento por parte do governo em políticas públicas e investimentos para sustentação do desenvolvimento econômico em mesma medida, evidenciado, por exemplo, pelos grandes gargalos no escoamento da produção ou em problemas de mobilidade urbana;
c.  A burocracia impede o desenvolvimento e a formalização de novos negócios no país, reduzindo a criação de novos empregos, além de funcionar como combustível à corrupção.
 

Tomara que as previsões do governo estejam certas, apesar das apresentações de números diferentes e de ver, no dia-a-dia, os problemas de sempre. E que a Copa do Mundo nos traga um legado positivo, não só pelos estádios de futebol, mas também através da economia, da melhoria na infraestrutura básica e do emprego. 

Vou torcer para o Brasil!

5 comentários:

  1. Muito pertinente sua colocação. Eu, como otimista de plantão, estou preocupado com o pós copa...

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  2. Começando pelos hotéis, vai ter tantos quartos vazios, mas por outro lado vai ser bom porque o preço vai diminuir, os apartamentos que muitos investidores compraram pra alugar para gringos também vai baixar o preço, infelizmente fizeram tantas coisas mas pensando nos turistas e não em nós brasileiros,

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  3. Entendo que temos acesso a parte da informação, apenas. Explico: existe uma diferença entre o que é feito e o que é divulgado, e isto pode ocorrer de duas formas: pode haver investimento e não ser divulgado ou, ainda, pode-se divulgar algo que ainda não aconteceu. Daí a necessidade de se criar, ainda no ensino básico, uma tendência ao pensamento crítico, pelo qual o aluno percebe que a informação precisa ser interpretada. Note-se a divulgação realizada em 2011, quando o Brasil era foco de grande interesse. O cenário, em 2014, pode ser outro, não? Daí a importância de se incuir a Gestão da Informação no currículo e, se possível, ainda na educação básica. Penso que é uma disciplina elementar e ajudará no desenvolvimento do indivíduo e, também, como cidadão.

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    1. Obrigado por compartilhar, Prof. Ilan! Concordo com o que diz, em relação ao pensamento crítico e a Gestão da Informação no ensino básico, evitando que o aluno faça análises superficiais sobre determinados temas. No entanto, o discurso do governo parece não encontrar ressonância no dia-a-dia dos brasileiros. Aos menos, é o que tenho observado. Um grande abraço!

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    2. Muito bem Rodrigo, o que vc comentou foi bastante oportuno e condiz com a realidade. Quanto seu questionamento no blog: "Se atualmente, no cenário econômico mundial, somos um “oásis” no deserto; passada a euforia, quem sustentará o emprego e a renda de boa parte dos trabalhadores? Nós, economistas também estamos apreensivos com o legado da copa e também das olimpíadas em 2016. Nós, economistas, tentamos prever o futuro - é uma mania, confesso; porém tentar descobrir o que vem no futuro em uma situação de incerteza política, econômica, educacional, cultural e social é quase impossível. Mas, nos apoiamos em dados e fatos históricos para tentar estabelecer um diagnóstico do futuro. Analisando, os dados (http://www.bcb.gov.br/?INDECO) temos alguns que são relevantes, como os de expectativa dos empresários quanto a economia no futuro; sendo que este índice está caindo ao longo de sua série histórica, ou seja a economia no futuro próximo é incerta na visão dos empresários. Temos uma preocupação, também, quanto ao nível de investimento no país que é muito baixo e um excessivo gasto governamental com custeio e aumento da carga tributária, que deixa nossos produtos e serviços menos competitivos. Além, de preocupações constantes com o aumento da inflação e excessiva postura de esquerda do governo federal (e também, de todos os partidos políticos), que nos afasta da ideia clássica capitalista. Assim, no curto prazo, as soluções são mínimas e pessimistas, como, por exemplo, de aumento de problemas sociais e educacionais. Provavelmente, a economia continuara a crescer em marcha forçada por estímulo a demanda (ao contrário do pensamento, clássico de estímulos a oferta).

      Bom, como eu disse, é válido sua iniciativa de levar o conhecimento da realidade brasileira ao público em geral.

      abç.

      Leandro

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